Quantas vezes a gente tem um momento de real clareza? Conseguir discernir com presteza o certo do errado, o que precisa ser abandonado e o que deve ser mantido. É raro, ainda mais depois que a derrota, o desamparo nos tomou como reféns. Pra mim o seis e o Ás de espadas são ambos repletos de clareza, visão. A questão é que aqui já perdemos a batalha, não tínhamos aquela grande chance de vencer. Aqui a pessoa se reergue depois de uma luta perdida, de um tropeço, de uma tristeza.
Seis de espadas é a retomada de consciência, é pegar nossa espada no chão, afiar, acreditar que ainda dá pra lutar. E dá, sempre dá. Mas também é preciso planejamento, raciocínio apurado. Às vezes essa carta é de uma suavidade daquelas bem ao estilo do barco navegando na iconografia do Smith-Waite. Outras vezes é mais doído, mais aquele pensar do que precisa ser feito, do que precisa ser superado.
Qual o horizonte que te preza os olhos? Acho que é uma boa pergunta quando essa carta surge. Se pensamos algo aquilo que pensamos deve valer o esforço de nossa mente. Não adianta pensar em colher milho em plantação de abóbora. A gente tem que pegar o melhor da nossa mente e usufruir: fazer do milho, milharal. Hora de organizar a estante da cabeça, de jogar umas coisinhas fora, seguir em frente. Quem só pensa na derrota jamais vence.
Inuendo, insinuação. Muitas vezes a mentira não surge das palavras, mas da omissão delas. É naquilo que não se sugere em que reside o perigo. Às vezes escondemos palavras pra nos proteger, às vezes pra evitar conflito. Nem sempre a mentira é uma maldade. Às vezes é uma atitude precisa. Existem animais que se camuflam para evitar serem predados. O pavão abre as asas para atrair a fêmea, mas suas asas não servem pra voar, servem pra insinuar.
Saber falar muitas vezes é saber falar bonito. Eu penso nisso com o VII de Espadas. Quem fala bonito parece que está falando algo mais verdadeiro, mais real. Mas políticos falam bonito. Golpistas falam bonito. Bem me lembro que no Dao De Jing que não há nada mais feio que o belo.
Mentir, omitir, dizer o não-dito. Quando estas espadas estão juntas eu penso em tudo que a língua pode fazer. Barganha. A gente olha essa carta e sempre pensa no ladrão do Smith-Waite, mas a gente esquece que nem todo roubo é realmente assalto. Pretextos.
- Quanto custa isso?
- 150 reais.
- Isso é um roubo! Pago 100.
- 150.
- 80.
- 140.
- 120.
- 130.
- 110.
- 120 e olhe lá!
Comprado. 7 espadas, língua ferina, língua indecente, sabe falar ou desfalar. Omitir, o mentir. Mentira pode até ter perna curta mas já faz cada pessoa alta tropeçar. Quais serão suas palavras, pala lavras? Qual o risco a ser tomado e qual o preço que se ganha nele? O tamanho do tropeço vai dizer.