O SIGNO DE ÁRIES
"Carneiro, carneiro, és tu o primeiro,
O derradeiro Sol que se exalta"
Assim escrevi em um dado poema.
Áries é o primeiro dos doze signos do zodíaco. Abre a primavera mítica, tempo em que o Sol recomeça seu caminho por entre a elíptica. As flores nascem, a inocência aflora na chama do astro-rei, este que tem o carneiro como signo de sua exaltação. A jovial fúria do cordeiro traz ao luminar uma força notável.
Áries é colérico, quente e seco, tal qual a chama solar. Signo cardinal, abre a estação da vitalidade e faz as coisas fluírem como um incêndio que se alastra. Sua luz derrete o inverno, aquece as plantas e animais dormentes. Desperta em tudo que vive um instinto de viver, queimar, movimentar. Como uma fagulha que a tudo incinera.
Áries é o domicílio de Marte, o planeta do ímpeto, da violência, do corte. Como uma ferida arde, assim Áries se faz o ardor do planeta que sempre ataca. Signo de ânimo puro, disposição frequente e que desconhece limites, cólera que tanto pode ser infantil quanto bruta, o carneiro é a fúria de tudo que nasce, berra, se faz vivente.
Queda de Saturno, não sabe dar regra e limites ao planeta que tudo restringe. Exílio de Vênus, sua indelicadeza e furor não cabem na beleza e sensibilidade do planeta que dita o amor. Ao signo marcial-solar, cabe somente o impulso da batalha ou o brilho vivificante de uma chama, coisas essas que não podem ser limitadas ou abraçadas.
Áries é o primeiro porque ninguém além dele se daria ao direito de ser. Como um carneirinho dando cabeçadas, desperta os anos dando fulgor ao luminar diurno.
O SIGNO DE TOURO
“Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade, decepado
Entre os dentes segura a primavera”
Touro é o seco que se faz molhado.
Signo fixo, é o meio da primavera, momento onde nela triunfa sua beleza, as flores são mais flores, o dócil é mais dócil. Porque a inocência carneira se tornou maturada no desejo ruminante. Aqui temos a firmeza de um signo de terra e a duração daquilo que é fixo. Diferente de seus irmãos de solo e melancolia, frios e secos, carrega em si capacidade de nutrir que tanto faz falta na estéril virgindade e na dureza capricórnia. Que Virgo é areia, Capricórnio é pedra. Touro é refazenda.
“Abacateiro saiba que na refazenda
Tu me ensina a fazer renda
Que eu te ensino a namorar”
Touro é o domicílio de Vênus, a senhorita beleza; exaltação da Lua, mamãe nutrição. Plantando aqui tudo dá. E imagino a docilidade bovina em um pasto amplo, a grama verdejante e o mastigar e remastigar calmo. Como é verde meu vale. Aqui temos o solo propício a qualquer semente. Úmido e húmus, substância e nutriz. E tudo é um processo sutil e duradouro, a semente vira plantinha que vira plantona que vira árvore, flor e fruto. Simplesmente natural.
” Valorizo seu sorriso
Seu jeitinho de andar
Belo, lindo, sensual
Totalmente natural”
Tudo me faz cantar e recantar aqui onde a beleza e o acolhimento se fazem com tanto primor. O corpo é uma obrigação, desejar é comum como uma maçã. E todo pecado se faz éden. Como Zeus, o grande autor divino, que se põe na fronte bovina para conquistar Europa. Primor da matéria, o toque, o mastigar a polpa de um fruto permitido. Amar é nutrição, acolhimento, colo, afago.
“Outro corpo, a pele nua, carne, músculo e suor
Como um cão que uiva pra lua contra seu dono e feitor
Uma fera-animal ferido no dia do caçador
Humaníssimo, gemido, raro e comum como o amor”
Exílio de Marte, o Touro não sabe atacar na medida. Ou se torna fera de rodeio com cólera incontrolável ou, - pior: infeliz carniçaria de abatedouro. Mas o Touro nunca se permite cair sem luta, por isso não oferta queda a planeta algum. Apesar de ruminar tanto, no confronto se mostra uma fúria desproporcional e até mesmo desnecessária. Mas ainda assim, não para até tocar a capa vermelha e as entranhas do toureiro.
Talvez exista até beleza no que é sangue e entranha.
Gêmeos, mórbida semelhança.
Fim da primavera é o signo que se faz dois. Primeiro signo mutável, bicorpóreo. Antes que o verão venha, um bate-papo. Antes que as flores frutifiquem, um diálogo. Gêmeos é ágil, articulado, aéreo. Signo de ar, sanguíneo. Ventania que vai indo pra todos os cantos, ora forte ora fraca, sempre vento-ventoinha. É o signo que ensina trocadilhos e duplos sentidos. Tudo nele é duplicidade: é engraçado como um signo estéril também pode representar a própria ideia de ter dois filhos.
Domicílio de Mercúrio, o pai da gambiarra, do comércio e dos chinelos, Gêmeos a nada exalta, quem é dois sempre se vê igual no outro, há quem diga. Wirth relacionava este signo ao arcano XVIIII. Há quem veja arcano VI. Há controvérsias. Mas Gêmeos sempre traz certezas, não sem antes haver um estudo, uma pesquisa, uma análise, como uma criança que percebe como colocar um brinquedo quadrado dentro de um formato quadrado: eureca!
Gêmeos apura os entendimentos mercuriais com seu poder analógico. Traz ordem ao caos, traduz símbolos, elabora sistemas como quem brinca. É rápido como os pés alados do Mensageiro. Ágil como o lábio, como a lábia. De lábio pra lábia, uma letra. Assim Gêmeos se faz lábio e lábia. Mestre da oratória, palanque encarnado.
Mas este é o signo que exila Júpiter, o grande benéfico. No ambiente frutífero e expansivo do planeta, não cabe a estéril infância do signo hermafrodita. Os frutos não crescem, a verdade se torna intercâmbio de palavras. A justiça do alto se torna dúbia, a verdade se perde na tradução. É preciso ser grande para fazer a lei. Gêmeos é pequeno porque se divide por dois.
Mórbida semelhança.