Certa vez observei os quatro áses dos naipes e percebi algo estranho: um corpo se formava na mais linda anatomia. O Ás de Ouros era a cabeça, redonda e cheia de foco, séria contudo produtiva, cheia de ideias pra pôr em prática com constância e foco. Com uma cabeça dessas ninguém se deixa cair em devaneios nem fica pensando quando agir, o que fazer, quando fazer. A pessoa simplesmente vai e faz, e é isso.
Só que pra fazer algo bom e bonito, tem que ser feito com o coração. Por isso o Ás de Copas é a fortaleza dos átrios e ventrículos. Tronco forte e transbordante de desejo e sonhos, o que se faz ideia na cabeça ganha emoção nas entranhas, transparece em todo corpo e move, motiva, faz desejar. O sangue flui por entre as veias e artérias, bombear constante que faz o corpo-alma mover. E então botamos a mão na massa.
Mas pra botar a mão na massa a pessoa tem que ter mãos e aí entra o Ás de Paus e de Espadas, respectivamente a mão direita e a esquerda, uma criando e dando forma pras coisas enquanto a outra define, ajusta, edita, corta. Uma vai fazendo acontecer e a outra vai dando os retoques, o detalhamento final.
Se na cabeça temos a ideia, no coração temos o motivo, nas mãos a determinação para elaborar e criar, destruir e recriar. Razão, emoção, energia e intelecto. Os quatro áses são a energia mais pura dos elementos que carregam: a terra de Ouros, o fogo de Paus, o ar de Espadas, a água de Copas.
Uma energia no estado puro tem a possibilidade de tomar as mais diversas formas com a devida motivação e usufruto delas. Com ouros, infindáveis possibilidades de projetar coisas na matéria, empreendimentos, trabalhos, ganhos financeiros, concretudes. Com paus, o ímpeto, desejo, tesão, capacidade de fazer, de imaginar, criar, botar o pau (literalmente) pra cima da mesa. Espadas, poder de dominar, raciocínio, ordenação lógica, triunfar nos conflitos, vencer a justa luta, cortar o que for preciso. Copas, amar infindavelmente, sentir, chorar, jubilar, se emocionar das mais plurais formas, afogar ou afagar na medida do impossível.
Por serem energias tão puras, tanto podem nos servir ao bem quanto para o mal, tudo depende de como botamos essa cabeça, essas mãos e o coração pra funcionar. E a partir do desdobrar dessas energias vemos as outras manifestações dessas energias nas outras numerações. Aqui temos o princípio do princípio, a energia ainda “imanifesta” que então se dobra, redobra, tridobra por entre o progredir do naipe até alcançar a plena manifestação, a concretude plena dos dez.
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