Breve elogio da loucura
E aqui começamos.
O primeiro passo não necessariamente é o mais simples nem mesmo o mais difícil. É um passo. Uma expressão, um primeiro ato de um porvir. Aquilo que se manifesta torna-se fácil, difícil é o caminho, mas só se houver medo.
E por mais que o Louco, Le Mat, seja o clássico clichê dos começos, vale a pena ser cômodo. Este arcano por si já é incômodo demais, desconcertante em um mundo de muitas estruturas onde se evitam os avessos.
Mas a loucura deve ser elogiada, já bem havia feito Erasmo de Roterdam. O arcano zero ou vintedois não teme coisa alguma porque ele simplesmente não tem tempo pra isso. Ele não para, ele não reflete, ele não questiona. Ele anda e vê onde vai dar. Abarca a tudo e todos como um símbolo da mais plena inocência, enfrentando planos e abismos com a mesma doçura.
Começar a empreitada de falar, desenhar, brincar e criar o criado, dizer o dito, é abraçar todas as possibilidades. Arcana Coeli, do latim: segredos do céu. Para saber um segredo, procurá-lo. E andar atrás dele até esquecer o que procurava. Um dia então, de sobressalto, descobrir o segredo. E esquecê-lo, porque não importa mais. O segredo já é outro, mas o caminho é sempre o mesmo.
Aqui certamente não alcançaremos o segredo do céu mas alcançaremos alguma coisa.
(Texto de 2 de Março de 2020, primeira publicação da página do Instagram @arcanacoeli)