A esperança é a espera que dança. Estrelas dançam e nos guiam num céu esvaziado e temeroso. Quem espera sempre tem uma estrela guia. A esperança não é uma espera vazia. Mas é uma via de lágrimas. Quando se perdem todas as vaidades, os reinados, as torres de nossas crenças mais fúteis, só nos cabe chorar. E a musa despeja água no riacho.
Chorar faz bem, é natural. Lágrimas conduzem muitas vezes a uma boa noite de sono. Uma noite de sonho. Porque sonhar é a virtude dos que choram. Quem não chora não ama. Porque a devoção é um vale de lágrimas. E um aniquilamento de si por um (e)star maior.
"O ardor que me leva a Ti faz correr as minhas lágrimas
Como a água da nuvem.
Sinto não poder estar unido a Ti;
No entanto a Ti não busco menos.
Ah! sê meu guia, pois perdi-me de meu caminho!
Dá-me a felicidade, ainda que venha a
Pedir-Te intempestivamente.
Aquele que teve a fortuna de entrar em Tua vida
Enojou-se de si mesmo e perdeu-se em Ti.
Não estou sem esperanças, mas estou impaciente.
Espero que de cem mil tomarás um." *
* A Linguagem dos Pássaros, Farid ud-Din Attar.
O casulo é uma estrutura falida, não existe para vigorar sobre o corpo. É criada para nutrir o inseto em seu estado de pupa até que esteja pronto para sua metamorfose. Enquanto lá adormece, se prepara para alçar a liberdade das asas. Todo casulo é uma estrela aprisionada por necessidade. No sono de sua própria transmutação, sabe que na hora precisa haverá de romper o conforto do alicerce-sono.
Toda lagarta que não rompe a pupa morre sem ter sido borboleta. Porque há certas liberdades que só ocorrem no esforço da própria liberação. Abrir as asas e romper o estabelecido primeiro dói, depois desperta uma nova beleza. Borboleta sai do casulo é strela. Strela é voar para o futuro, romper a casca que lhe foi habitat. Quem não se abre é incapaz de voar. É preciso morrer antes de nascer, dormir antes de despertar. E então abrir os olhos, sair do casulo, ter asas.