inicio a escritura deste texto, os olhos pesam de sono, exaustão, mas cabe a mim o dever de cumprir o dever. Virá na meia-noite ou hora semelhante o mês do arcano VIII, A Justiça. E ela se dá ao direito de cumprir deveres. Porque simplesmente deves, é sua obrigação. E obrigado nem sempre é agradecimento. É lei por ser executada.
A Justiça é esse arcano tão quadrado que chega a ser cúbico. Existe o certo e o errado. Faça o errado, seja punido. Faça o certo: não foi mais que sua obrigação. Pague o que deves. Olho por olho, dente por Dante. Quem vigia os vigilantes? - foi o que li no capítulo de Tomberg sobre a dita cuja. Também assim li em Watchmen.
Ser detentor do veredito, isto não cabe a qualquer olhar. Haverá de ser esta visão centrada de ferino falcão. Visão de quem não se dá ao direito de fechar os olhos. Ela nos olha de frente, nos traz esse desconforto de jamais se dar ao direito de nos ignorar. A balança contudo nos diz: as medidas serão certas.
Mas a espada em punho ressalta: para cada qual sua sentença. O equilíbrio que tanto proferem a essa carta é quase uma coisa estática. Como quem contempla regras e mais regras de um livro enorme de Direito. Regras que não condizem ao coração, mas a algo que se estabelece o certo. Por ordem de Deus, por ordem dos homens, por ordem da ordem. Por ordem.
Ordem, ordem no tribunal, - recai o martelo. A Justiça é uma virtude, virtude que a nós não convém. Mas existe. Alguns dirão ser somente conceito, abstração inconcretizável. Outros dirão ser verdade tão concreta quanto o chão na qual sua musa armada se estabelece. Mas existe, seja fato ou seja ideia, existe. Para alguns, a justiça se compra. Para outros, se vende.
Mas a Justiça em si, arcana dessas que me traz comichão e dúvidas, ela permanecerá sempre inquebrantável, impassível, a todo instante julgadora e condenadora. Porque corta do Mago o sorriso, confronta do Diabo o escárnio. Com ela nada se vende, nada se compra: tudo se confronta.
E então, vírgula, ponto final. Contra fatos não há argumentos.
Não agirá com justiça o Juiz de toda a terra?
Olhos que condenam,
Que observam para executar.
Enxerga, sim, - Ela enxerga.
É preciso ver para julgar.
Mais justo é quem enxergando
Mensura a balança na medida.
Não é preciso se vendar
Para saber o que é verdade.
É preciso enxergar
Para se fazer o corte.
Atingir a jugular do erro,
Esguichar o sangue do crime.
Olhos que condenam
São olhos que executam.