Por trás do caos, a estrela cintilante. Existe na astrologia a ideia que o sol é uma estrela que distante dos outros planetas é benéfica, próxima, maléfica. Afinal, quando ocorre uma conjunção entre o sol e outro planeta que seja, este se torna ofuscado pela luz dele, é obliterado, literalmente destruído. A isso damos o nome de combustão. Quanto mais próximo o planeta do sol, mais incinerado, mais ofuscado, mais arruinado.
Mas se o planeta, em condições adequadas de longitude e latitude celeste, fizer uma conjunção com o sol e chegar próximo dele num perímetro de distância próximo de 17 minutos ou menos, ocorre o cazimi. O planeta encontra o coração do sol, adentra o castelo do rei, é purificado, iluminado, alcança a ablução. Então, o planeta se torna mais forte do que poderia ser.
Cintilante a estrela por trás do caos. Quando vejo tantas pessoas tirando a Torre como arcano desses tempos, penso que por mais que tudo esteja desmoronando, que o céu queime em sopros de fogo e relâmpago, há uma luz por trás disso tudo. Uma estrela, um primum mobile. Porque se temos essa casa de Deus demolida, essa babel arcana desmoronando, o dedo é do divino que nega a tola matéria e suas ambições.
Acreditamos tanto nas nossas verdades, aquelas que brilham em nossos umbigos, tufos de sujeira, que ignoramos as verdades maiores. Enquanto alguns abandonam suas casas para propagar a desordem e a doença do egoísmo, há outros que se escondem pelo bem de todos, mas o triste é que nesses tempos tempostades, todos pagam o preço por aqueles que não abrem mão dos seus luxos. E assim a casa tanto do pobre quanto do rico desmoronam. Mas o sol ainda brilha, o céu ainda tem chamas e relâmpagos desmoronando as babéis.
No processo de ablução, não adianta lavar as mãos se não houver a consciência que elas estão sujas e por isso precisam da purificação. Sujas dos nossos próprios atos, nossas ganâncias e o orgulho, a vaidade solar que nega o divino em cada um de nós. Se caminhamos agora por entre o sol, combustos, incinerados, é porque só assim alcançaremos seu coração e misericórdia. A Torre é arcano do aprendizado duro: o destino da destruição é o júbilo do renascimento (1).
Mas, por trás da estrela o caos cintilante. O caos e a estrela por fim são a mesma coisa. Do XVI ao XVII é um pulo. Mas quantos poderes vigentes, quantas autoridades, quantos egos, quantas tolices precisaremos ver desmoronar para perceber a estrela que se esconde acima dA Casa de Deus?
(1) The End of Evangelion.