Eis o sol, eis o sol, apelidado astro-rei, - assim canto eu e cantava Cazuza, marcado pelo próprio luminar na casa 5, exaltado no signo de Áries. Na astrologia a quinta casa é aquela que comenta sobre criações, arte, sexo e o seu fruto particular: as crianças. E porque eu falo dessas coisas todas que não convém a estrutura do tarô? Porque me deu na telha, como uma criança que tenta enfiar um círculo num buraco em formato de triângulo. E o Sol é um dos poucos arcanos maiores do tarô que apresenta uma criança. Sua alegria e luz é tão pura quanto um par de infantes.
Infantes estes que, diferentes dO Mago, não se dão ao direito de fingir ser mais do que são. Que diferindo dos diabinhos do arcano XV, não estão atreladas a erros e compulsões. E que são crianças num corpo de criança, diferente dO Louco, bebê em corpo de marmanjo. As crianças dO Sol se dão ao direito de ser crianças, de serem criação, de brincarem sem medo, cercadas por um muro e beijadas pela luz tão amena da nossa estrela-pai. Livres para serem quem são, mas conscientes dos seus limites.
Gente é pra brilhar e não pra morrer de fome, canta Caetano. E aqui tudo quanto é gente se vê como realmente é, sob o brilho dessa luz que aquece, porém consome. E tudo é fartura enquanto evitarmos olhar pro céu demais e perder a visão neste processo, porque tudo é a questão do excesso. Este é o arcano que todo mundo se dá ao direito de amar, porque é gostosinho, porque mostra o amor como realmente é: um eu que se vê igual em seu semelhante e se dá ao direito de brincar com ele.
Mas criança que é criança muitas vezes esquece até onde pode ir. E o muro lembra que não adianta querer tudo porque nem tudo nos convém. Nada pior que uma criança mimada, dessas que se acha dona da bola e fica querendo ditar as regras do jogo. Brinquemos e amemos, mas jamais nos comparemos ao Sol. Porque quem é rei jamais perde sua majestade e cabe a cada súdito saber se curvar. Pra quem sabe apreciar sua luz, toda colheita cresce, toda riqueza se faz presente, todo amor frutifica. Mas que saibamos criar sem jamais querer superar o criador, pois é nisto, tenham mente, que aprendemos na plena infância: quem brinca com fogo mija na cama.