No tarô, o céu não é o limite.
Limitar o tarô ao céu é pouco.
Quando a Torre despe tudo que é vaidade, o firmamento das possibilidades é o sem-limite. A esperança é a filha do desespero, tal qual A Estrela se estabelece na mais profunda noite. No oblívio do entardecer, quando o vazio do espaço sideral é demonstrado, ter os pequenos luzeiros é prova de que existe caminho. O que brilha no céu reluz nos olhos que confiam.
O arcano-aguadeiro despeja e se integra ao meio porque quando nada temos, nos convém abraçar o que ainda se faz presente. A noite se fará ainda mais profunda, ao ponto que sequer estrelas se farão visíveis. Caberá somente os astros de nossas pupilas, nossa crença que para além do que é alma, na fantasmagoria do espírito, vivenciar a translucida luz de um luar impreciso é o suficiente.
E enquanto tudo é tomado pela marca do instinto, o medo e o desejo, a benção e a maldição, tudo se mesmifica em uma entidade dúvida. Cabe a nós a crença que supera o uivo, o anseio celestial que não se atém as edificações esvaziadas de certeza. Porque é certo quem acredita que atrás de toda noite reside um dia.
“Não te esquecerei um dia, nem um dia.
Te espero com a força de um pensamento.”
Pensar o dia é estabelecê-lo, a manhã é tão certa quanto uma noite o é. Mas a noite se pressente, o dia não. Haveremos de esperar o sol nascer sempre com o medo de que não virá. Que um dia o luminar desaparecerá da face da terra, nos deixando ao deus-dará. Mas se há lua, há-de-haver o sol, como dois e dois são vinte-dois.
E só quem confia que o rei celestial se ergue poderá vê-lo em cada amanhecer. Pois o sentimento e o conhecimento, entes ditos opostos, são entes dispostos que se estabelecem um no outro, entre-camadas de um só livro. E a loba que uiva na lua difusa é a mesma que alimenta Rômulo e Remo, os fundadores da apolínea Roma. Crianças que brincam nas amuradas da cidade que ergueram.
Há uma razão para além dos homens que ergue reinos. Razão que se faz sol para nossa mortandade. Mas estrela, luminares, os errantes, tudo isso é vaidade frente àquilo que está para além do céu. Que o céu não é limite. O céu é limiar.
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