arcana - segredos
coeli - céu
A experiência oracular é marcada pelo secreto. Quando desvelamos o oculto criamos un lapso no tempo, um momento que parece fora dele. Exploramos a própria realidade e ao fazê-la, vivenciamos essa metalinguagem onde a realidade que era segredo se manifesta na realidade cotidiana. E isso é algo poderoso, marcante tanto para o consulente quanto ao oraculista.
A vida em seus aspectos óbvios se torna uma outra vida. Vida-entremeio, estado para além da vida sem deixar de sê-la. É o oculto se fazendo visto. O que calamos se tornando palavra inevitável. E nessa hora onde as coisas todas transbordam pra fora do tapete, cabe a nós organizar o profuso dos símbolos, ornamentá-los nesse momento fora do tempo, destrinchar isso que existia sem se mostrar, destino, fado, vir-a-ser.
E quando a mesa esvazia vem a questão fundamental: calar. Quando o jogo acaba, aquele segredo tornado visto volta ao oblívio do mistério. Consulentes carregam essa visão da forma que lhe convir, mas para o oraculista sua regra acaba sendo o voto do silêncio frente ao mistério. Não cabe a outrem essa história que só envolveu quem a contou e quem a ouviu, esses dois que presenciaram o mesmo cenário.
Um dos atos mais essenciais de quem se põe frente ao oráculo é ouvir segredos e segredos, destrinchá-los e então esquecê-los. Não como quem os perde na memória, mas como quem simplesmente não se dá ao direito de contá-los, são improferíveis.
No máximo, os nomes se esvaem, o conteúdo se simplifica, continua segredo por ser uma alusão onde não se consegue entender bem o ocorrido. Porque nunca podemos contar a história no seu todo. Viramos sempre esse arcabouço trancado de histórias sublimes, sonhos enormes e dores macabras. Às vezes até fora do oráculo segredos que não cabem a nossa voz, não se comportam a nossas cordas vocais. Mas geralmente é nessa hora onde a figura consulente se põe a nossa frente que, tão nu quanto jamais foi, conta o que jamais contaria, sofre o que jamais sofreria, abre o que jamais abriria.
E cabe a nós o segredo. Segredos. Do céu, jamais nossos. É preciso aprendermos o silêncio e sua propriedade translucida e disforme. Porque as palavras só cabem ao mistério. Ao tempo fora do tempo e seus participantes.
Tarô é enredo, desventura que se desenvoltura a cada instante do cotidiano. Uma consulta é momento onde o banal, o mundano, o diário se inebriam no encanto que surge nessas setentointo lâminas que destrincham a vida, mostrando os caminhos que de desdobram a cada instante, nos dando ferramentas para vivenciar o plano da realidade.
Tarô é caminho, anagrama-se rota. Andemos pois, rumo aos ditos dos arcanos. Tarô é o jogo onde qualquer um pode vencer. É só abraçar o des(a)tino.
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