Três copas, uma festa, um desbunde. A grande dinâmica aqui é um exagero, um júbilo, literalmente uma visão bem pé na jaca da vida. 3 de Copas é arcano de quem sai de casa em uma pandemia pra ir no bar. Gente que vai em um motelzinho mequetrefe pra dar um lance. Ou talvez eu tomando umas pra esquecer o coração partido. Misturar licor e whisky. Ou esses adolescentes de 15 anos no carnaval tomando corote como se fosse água.
O 3 de copas é um superlativo, é um orgasmo, é uma coisa muito exagerada e por sê-la reside o seu perigo. Se pensamos que a carta a seguir dela, o 4, é como se fosse uma ressaca, aí vemos o perigo da coisa. Um excesso ao ponto do desgaste. Comemoramos, celebramos, gozamos. E depois vomitamos as tripas pra fora. Depois pegamos uma DST. Depois a gente manda texto pra ex. Depois a gente se sente vazio.
Até que ponto você sabe cuidar do seu exagero? Até que ponto você ama sem que esse amor te afogue? Você sabe o limite do seu co(r)po ou você vai embriagar? Vai se entregar as festas, vai confundir-se nos outros? Vai assistir 5 temporadas de uma sitcom só pra não ficar no tédio? Vai se nutrir de alguma coisa que traga em você um êxtase, um exagero, um sentimento de ser parte de algo maior que você. Se perder numa pista de dança não é querer desaparecer na cor das luzes, na fumaça, no brilho e nos goles daquela bebida extasiante? E então, acaba. E eis a culpa e o asco e o medo.
Que sejamos responsáveis por nosso próprio gozo. Beba com moderação. Se beber não dirija.
”Há ajuda e esperança em outros encantamentos. Sabedoria diz: sê forte! Então tu poderás suportar mais prazer. Não sejas animal; refina o teu êxtase! Se beberes, bebe pelas oito e noventa regras da arte: se tu amas, excede por delicadeza; e se tu fazes qualquer coisa prazerosa, que haja sutileza ali!” - Liber AL II-70.
Com quantos paus se faz uma canoa? Acho que com três a canoa já anda. Três de paus, pensamento-engenho. Onde o ás cria e o dois pensa, o três faz. Finalmente as mãos na massa ou, ui, que indecência: no pau. Pega o serrote, corta a madeira, prepara as ferramentas, martela de cá, martela de lá, não é que deu uma canoa? Quem vai embarcar? Embarca quem fez, quem se arriscou e quem se dignou a ajudar.
É aquele arcano que mesmo quando não parece que vai, vai. Aquela apreensão, a dúvida toda do arcano antecessor chega a uma resposta: melhor usar prego que parafuso. Aí talvez, bem talvez, você esteja sem pregos e meio na sorte seu vizinho é dono de uma loja de marcenaria. Aí vocês conversam, papo vai, papo vem, ele fala que se você fizer o barco ele também quer ir pescar. Tá errado por acaso?
Unidos venceremos, mas a vitória ainda não veio. O vizinho te dá os pregos, te ajuda a montar o barco, mas e aí, vamos pescar? Entra no barco, rema e rema, joga anzol, nada de peixe. Anzol de novo, um peixe. Joga a rede, um cardume. A sorte muitas vezes é só o resultado dos esforços. A benesse vem pra quem faz bem feito. E que barco maravilhoso, comporta todos os peixes. Vamos voltar e fazer um belo almoço. Você chama sua família, eu chamo a minha. Com quatro paus, quem sabe, a gente não acende uma fogueira?
Pois é, pois é, com três de paus é um pouco de fé, um cado de milagre, mas bastante mãos a obra. Quando um quer dois não brigam: três investem. E o desempenho, o trabalho bem feito faz qualquer pau virar barco. Sebo nas canelas que a vida se faz no agora. O que temos por fazer, o que temos por criar, com que anzol você vai ir pescar?