I –
A posição fetal
É o Três de Espadas
num TaroT assinalado;
Ó indefesidão
de um coração
quebrantado;
três dores
três dós
três marias
& um tripalium.
II -
Binah, a mãe, a doadora de formas. Na cabala, esta é esfera que gera a vida corpórea, mas também a morte. Tudo aquilo que tem forma física haverá de perecer. Por isso ela é tanto a mãe dócil quanto a mãe amarga. Há um mar que afaga e um mar que afoga, Binah é tanto um quanto o outro. Mas se faz o amargor do afogamento quando desperta pela marca do naipe cortante. Três espadas, corte incisivo a penetrar o coração.
O Três de Espadas dói porque é todo certeza. O que nele se apresenta é sempre verdade. Não há firulas, não há mentira, não há balela. Dói porque é real, porque é mensurável. O ralado na perna sangra pra mostrar que há uma ferida exposta, arde pra lembrar que você ainda está vivo. O coração partido arde para lembrar que o amor se fez vão, que a verdade prevaleceu o sentimento.
Ser verdadeiro não é necessariamente ser sentimental. Há mais verdade numa razão dura que numa doçura pretendida. Se corta com tamanha dor, é porque a lâmina está afiada. Se fere, é porque o coração é suave mas o fardo não é leve. Amar é um deserto e seus t(r)emores. Até as pedras deterioram, quem dirá o sentimento que não aceitou a realidade das coisas todas que perecem, a consciência que todos nos curvamos frente ao limite da espada.
Maria, maria é uma dó, uma certa amargura, uma força que desalenta. Saturno que se mostra fratura exposta, marah, a palavra que é tanto mar quanto amargo. Dói amar porque mais dói saber o que é o desamor.
III -
Ter razão ou ser feliz?
Ser feliz, doa a quem doer: com razão.
Doem demais as certezas...
Sou feliz com isso.
Cabe a você saber
se desfere as espadas
no próprio peito
ou no peito próprio
de outrem.
Quando ferir, retorcer para ter certeza do corte.
Ah, facada mal dada do c...
Desencanto: um dia, quando a gente menos espera, a gente acorda da infância e descobre que a vida não era tudo aquilo que a gente pensava que era. O Três de Espadas é aquela carta que pra mim representa bem o sentimento de perda da inocência. Quando a criança decide largar os brinquedos, não sabe mais onde se situa, como se num limiar desorientado. Criança, adulto? Uma interseção melancólica.
Como toda carta de número três, existe uma harmonia. A questão é que sendo o naipe de espadas, temos o intelecto, a razão harmonizados. E então é aquelas facadas no coração que aparecem no maço do Rider-Waite. O que outrora era desejado, a fantasia, o sonho, são despedaçados pela certeza da realidade, a vida como ela é. E bate aquela tristeza, aquela dor meio silenciosa ou por vezes lágrimas mesmo despontando. Como se algo morresse na gente, mas no fim das contas, continuamos vivos.
A vida segue, o três de espadas é uma carta de enorme didática. É o tough love, a lição que se recebe sem purpurina e pelo simples fato de assim ser, fica melhor entranhada na gente. O ser humano não aprende bem no contentamento. Há coisas que só no fel, na amargura, a gente realmente entende. É aquele xarope amargo ou merthiolate que arde mas resolve nossos problemas.
E nem sempre é ruim-ruim, às vezes é só incômodo como ajeitar a postura na cadeira. Por ser uma carta do começo do naipe, a dor não é permanente, geralmente é súbita, dolorosa, exaustiva. Mas passa. E quem aprende com esse arcano não chega até o final do naipe, onde as dores sempre são intensas.
Qual é o aprendizado, o desvelar da ilusão, o confrontamento da realidade que você precisará abarcar?