JUSTIÇA SEM NOME (ato i)
o ocidente vive a cultura da negação na afirmação. queremos a vida, a individualidade, o tal good vibes, negamos tudo que nos negue porque só queremos afirmar. temos medo do arcano sem nome, temos medo da única justiça verdadeira neste mundo. justiça sem nome é a justiça de deus. eu tenho medo, você tem medo, todos os ocidentais tem medo, mas os orientais e o bom coveiro augusto dos anjos já sabiam a verdade:
e que haja só amizade verdadeira/duma caveira para outra caveira/do meu sepulcro para o teu sepulcro – arcano xiii é o primeiro arcano absolutamente coletivo, porque nele todos são iguais, todos são húmus e terra e ossos, na uniformidade da terra você não pode diferenciar quem era quem, shakespeare & hitler & ghandi são todos o mesmo alimento dos vermes, não existe justiça nisso?
se no viii temos a equidade, julgar todos perante uma mesma lei eterna e eternamente vigente (v + iii, o parto-dogma), no xiii temos a sentença eternamente vera: não importa sua raça credo moral idade religião se você foi um anjo ou um bom arrombado do inferno todos vão pra mesma terra como na linda ciranda do final daquele filme do bergman: quando o cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu por mais ou menos meia hora (revelação capítulo viii, capítulo-justiça).
A MÃE DO DESTINO (ato ii)
morremos, - e o resto é silêncio. é justo aquele que não tem nome mas cumpre seu eterno dever, o mais moral e cruel dos deveres, assistir a morte cansada de fritz lang é ver o fardo do arcano que não pode jamais abandonar seu emprego. os good vibes "acertaram quando disseram da morte como transformação, só erraram o ponto do rolê: a morte transforma quando transtorna, quando ceifa todo um amontoado de fundamentos e os transforma em nada, em adubo, em comida de inseto.
a justiça sem nome é salvadora porque permite o ciclo da vida se desenvolver, é ela quem permite a roda realmente ser da fortuna. se o iii é o útero do reino, x + iii é o útero do destino, criador na destruição. o fim de evangelion: o destino da destruição é também a alegria do renascimento.
MILAGRE ACRE (ato III)
este trunfo não fala do tempo xx: o precede. só alcança o juízo final aquele que se dá o direito de morrer, aquele que cumpre sua final finalidade como forma-carne. a alma, quem nela acreditar, pode avançar outros degraus, mas aquilo que nos foi matéria fica firmado no alicerce do solo. no solo, contudo, não se percam: ninguém realmente é só. no solo todos são uma só unidade. um é tudo, tudo é um.
então morrer é a coisa mais democrática que os seres humanos conhecerão. no sem-nome somos todos iguais, que lindo milagre, finalmente não podemos falar mal dos vizinhos. Neil Gaiman também acertou quando fez uma morte linda y gótica daquele jeito, que fecha os portões do universo quando é chegada a hora. no momento preciso, até o perpétuo destino (X) tira seu chapéu e deixa a dona de nosso fim cumprir seu duro e preciso dever.
a mim cabe cantar o canto de mario faustino, outro homem muito bem sabido, phd em morte, morreu cedo porque sabia demais: que posso, damas, dizer-vos/ e a vós, senhores, tão servos/ de oura festa mais terrena –
não morri de mala sorte
morri de amor pela morte.
Se você gostou do conteúdo, curta, compartilhe, divulgue. Inscreva-se no meu Substack ou torne-se um assinante pago. Também aceitamos contribuições via chave pix: arcanacoeli@gmail.com .